ATALAIA - FESTAS E ROMARIAS

Função em Honra do Senhor dos Passos
Realiza-se no Domingo de Ramos em Atalaia.
O sexto Domingo da Quaresma, o que antecede o Domingo de Páscoa, denomina-se na religião católica “Domingo de Ramos” e marca o início da Semana Santa. O dia é assinalado para fazer a Procissão do Senhor dos Passos, sendo a de Atalaia, uma das mais carismáticas do distrito. A cerimónia é organizada, de dois em dois anos, pela Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, considerada uma das Irmandades mais antigas do país.
No sábado à noite, dia anterior ao Domingo de Ramos, logo depois da ceia, há uma procissão para levar para o calvário a imagem de Cristo crucificado que no dia seguinte há-de figurar na representação do Gólgota. Homens e rapazitos, com paus encimados por lanternas, precedem a cruz e o esquife onde o Senhor Morto é conduzido. Atrás, uma longa teoria de mulheres, mancha negra só aqui e além cortada por alguma vela de promessa. Casas e caminhos estão profusamente iluminados a cera e azeite. E o efeito da povoação, toda salpicada de luzes, vista de longe, à medida que a procissão avança em direção ao Calvário, é na verdade lindo e comovente. Em toada característica, acompanhada pela música, a multidão canta a ladaínha de Nossa Senhora. Não se vê ninguém pelas ruas; todos se incorporam no préstito. E a noite, luarenta ou chuvosa, empresta o seu negrume para solenizar amigavelmente a devoção ingénua e pura de toda uma aldeia rezando a cantar.
No Domingo de Ramos, procede-se à bênção dos Ramos, compostos apenas de grandes ramos de oliveiras, que o Senhor Padre entrega, um a um, a todos quantos estão na igreja. Postos em forma de cruz sobre qualquer muro ou rocha fronteiro às culturas, ou devotamento guardados na arca para se queimarem a quando das trovoadas, de qualquer modo é sempre com respeito e crença ingénua que os ramos são recebidos e utilizados.
E a cerimónia da bênção, e a pequena procissão que a liturgia ordena que à bênção se siga num ambiente de solenidade e respeito que muitas paróquias urbanas se invejariam.
Da parte da tarde, reúne-se o povo ao toque do sino e começam as cerimónias pelo sermão do “Fertório”. Findo este, organiza-se a procissão, que num passo lento vai percorrendo o caminho dos “Passos”. Em cada um deles há uma pequena paragem. E nalguns sai de entre a multidão uma mulher vestida de negro, simbolizando a Verónica e, desenrolando um painel em que vê grosseiramente pintada a face de Cristo, canta em tom plangente uma passagem do salmo – “Ó vos omnes qui transitis …”
No largo de Santo António, há uma longa pausa. De novo um sermão – O do Encontro. E, no meio do sermão, o andor da Senhora das Dores que até aí não veio incorporado na procissão, lentamente se aproxima e segue atrás do Senhor dos Passos novamente em marcha. O ambiente é de luto e de solenidade. Respira-se fé, e impressiona ver sacrifício de mulheres que vão descalças o tempo todo, ou debaixo do andor, de joelhos, deixando pelo percurso longos rastos de sangue.
A Música vai entoando uma marcha fúnebre, muito lenta. E até a noite, pelo caminho que circunda a aldeia, vai seguindo devagar, muito devagar, o longo e triste cortejo.
Noite escura, chega-se ao Calvário. Recolha do Senhor dos Passos sua capela. Sobem as outras imagens a ladear o crucifixo, erguido no Calvário, em que para o efeito foi improvisado uma espécie de palco com cortinas negras. Os sacerdotes despregam o crucifixo, enquanto a assistência ouve o sermão do Calvário. Finde este com o Senhor morto já no esquife, e de novo a procissão se organiza para conduzi-lo à igreja. Outro sermão encerra o dia, o sermão da Soledade, relembrando a dor de Maria.
É tempo de descansar. A jornada foi muito longa e muito dura e os corpos exaustos pedem tréguas. Recolhidos uns às suas casas ou às casas de amigos e parentes, voltando outros para as terras donde vieram. A aldeia adormece finalmente em silêncio que a pouco a pouco sobre ela foi descendo.
Na manhã de 2ª feira, porém, bem cedo é preciso acordar. Desobriga colectiva da aldeia, seguida de ofícios pelos mortos, missa cantada, sermão e procissão dos defuntos, o ambiente de funda religiosa que na véspera se viveu, prolonga-se, talvez mais intenso ainda, até que, tudo acaba e retomam as ocupações habituais.
São muitos os cânticos religiosos ligados à função do Senhor dos Passos.
Perdoa ao Teu Povo
Perdoa ao teu povo Senhor
Perdoa ao teu povo
Perdoa-lhe Senhor
Estarás eternamente irritado
Oh! Não, dá-me teu amor
Houve o brado da vossa
Grande dor
Donzela
Tive flores
Como tu ainda tens
Tive santa grinalda singela,
Tive beijos e um pai carinhoso.
Virgem casta eu já vivi,
Com os anjos no Céu e Virgem Sagrada.
Hoje vivo lutando,
Com as dores que sofre a mais desgraçada.
Esse véu de inocência,
Foi rasgado sem pena nem dor.
Ímpias mãos que o rasgaram,
Com tanto desprezo,
Já nem nas cinzas se encontra o pó.
Festa de Santo António – Comemora-se no mês de Agosto, em Atalaia.